Durante a quarentena eu tive o privilégio de bater um papo on-line com a escritora Marlene Soares Gouy, uma pessoa muito querida e que compartilhou um pouco do seu trabalho como autora, lembrou da época em que era professora e falou sobre temas bem atuais que cercam os dias de hoje.
O registro aconteceu no dia 26 de maio, no qual, apresento hoje a vida e a carreira dessa escritora infantojuvenil :
1- Marlene, o que lhe motivou a começar escrever livros, você tirou de letra ou foi um desafio iniciar no mundo da literatura?
Então, primeiramente acho que vem da herança familiar, eu tive um tio que quando vivo escrevia samba para uma escola aqui do Rio de Janeiro. O enredo dele nunca venceu mas ele adorava compor letras para concorrer na agremiação em que participava...
Tempos depois, no grupo jovem da Igreja, eu comecei a escrever diversas peças teatrais para os nossos encontros juvenis, aquilo me deixava super feliz e eu ficava bem a vontade em realizar aquela atividade ...
Outra memória que eu tenho foi na época da faculdade... fiquei encantada quando li o livro, "OS LUSÍADAS"... me apaixonei ao conhecer a história de um povo português contada em forma de versos, me cativei por cada página daquela história... A partir de então, surgiu o desejo de ser escritora...
Pessoas próximas a mim diziam que para isso eu teria que ler muito, então acabei deixando um pouco de lado e fazendo apenas livrinhos improvisados para os meus filhos e minhas sobrinhas...
Anos depois, após o nascimento da minha primeira neta, Maria Fernanda, minhas sobrinhas pediram para eu relatar como andava o desenvolvimento da menina, já que ela ficava comigo para que os pais pudessem trabalhar. E uma das maneiras que eu encontrei foi escrevendo versos... eu falava sobre o engatinhar, a papinha, o crescimento, enfim, coisas da rotina...
Minha sobrinha ao ler os versos, disse que um dia eu ia acabar escrevendo um livro, e não é que deu um livro mesmo?
Quando vi a quantidade de versos que tinha feito procurei a editora. Foi muito natural e eu não fiquei preocupada com os desafios da literatura não.
2- Quais conselhos você daria para alguém que deseja familiarizar-se com a leitura mas ainda não desenvolveu o hábito ?
Bom, o primeiro conselho que eu dou é começar a ler rsssss... porque a gente já lê Whatsapp, Facebook, letra de música, receita de comida... eu acho que a pessoa precisa se descobrir dentro de algo que ela realmente gosta.
Em caso de estimulo para crianças, a literatura infantil é muito rica, inclusive, essa foi uma das formas que me motivou ainda mais pelo mundo dos livros... os trabalhinhos que eu preparava para os pequenos na época da escola...
Outra coisa que ajuda bastante na leitura é a própria letra de uma canção , isso prende a atenção da pessoa e a motiva para praticar o ato, sem contar os vários tipos de gêneros que existem: crônicas, romance, literatura infantil, enfim, acredito que quando a pessoa se entregar e começar a ler, irá se encantar com esse universo .
3- Maria Fernanda, Uma Netinha Encantadora e sua Cadelinha Poodle, Olha o que a Maria Fez e Aurora, são as suas obras publicadas até aqui... Fale um pouquinho sobre cada uma delas.
A inspiração nasce em vários momentos da vida, inclusive quando a gente menos espera...
Maria Fernanda, como havia dito, foi porque as minhas sobrinhas pediram para eu relatar sobre o desenvolvimento da minha primeira neta, daí eu resolvi expressar em forma de versos...
Uma netinha encantadora e sua cadelinha Poodle, foi assim: Eu tinha uma cachorrinha linda e espoleta chamada Violeta, nessa época Maria Fernanda tinha uns 4 anos de idade.
Um belo dia minha neta resolve se enfiar debaixo da mesa e ficar com a língua toda pra fora junto com a cachorra😛rssss ... eu perguntava pra ela o que estava acontecendo mas ela não me respondia, pelo contrário, latia que só ela ... precisava ver a cena... foi muito engraçado kkkkk...
Foi assim que nasceu, Uma netinha encantadora e sua cadelinha poodle.
Uma netinha encantadora e sua cadelinha poodle
- Cadê a Violeta? Cadê a Violeta?...Foi quando veio a inspiração para escrever o livro...
Além disso eu também fiz uma pesquisa sobre o significado do nome Violeta e das características dessa raça, poodle, tinha tudo haver com minha cachorrinha no sentido da intuição, da animação... se tratando do nome também, a própria cor violeta, a flor Violeta... enfim, aconteceu dessa forma.
Olha o que a Maria fez! Esse livro começou da seguinte forma: Minha neta já estava crescendo e eu sempre chamando ela de meu bebê pra cá e meu bebê pra lá, coisa de vó...
Minha nora sempre dizia que ela já não era mais bebê e que já estava crescendo... Num belo dia, ela me convidou para vê- la escrever o próprio nome ... foi quando caiu a ficha e eu disse:
- Minha neta já não é mais bebê... minha neta está crescendo...
Uma emoção enorme e ao mesmo tempo, aquela sensação de estar perdendo um pouquinho dela também... coisas de avó!
Aurora: Bom, Aurora é o nome da minha netinha caçula. O próprio nome além de forte é também super inspirador... o nascer do sol, o raiar do dia... e foi baseado nessa inspiração, além do carinho que eu escrevi uma obra em sua homenagem.
Aurora
5- Além de escritora você também é professora. Quais lembranças positivas carrega da época em que dava aula ? Quais os desafios observa nos tempos de hoje?
Eu gostava tanto de dar aula que ao invés de me aposentar com 25 anos de carreira, só parei de trabalhar com 32 anos de magistério, acredita?
Sinto muita falta de não poder mais compartilhar minhas experiências com eles... entre as boas lembranças que guardo, estava um trabalho extra disciplinar que eu fazia de apresentar a nossa cidade aos alunos... nós íamos até os pontos turísticos do Rio de Janeiro e lá, eles fotografavam o lugar de modo a formar um mural depois...
A gente ia no Cristo Redentor, na Cinelândia, ao Castelo Mourisco na FIOCRUZ , entre outros... no decorrer desses encontros também aconteciam dinâmicas bem legais e interessantes... recordações que guardo até hoje com muito carinho...
Já em relação aos desafios, o que eu observo é a desmoralização dos nossos governantes com a educação no país, um absurdo total!
Outro desafio que eu enxergo é a necessidade constante de motivação em sala de aula... motivar os alunos para que eles não assistam a aula apenas por assistir...
Meus alunos diziam que era necessário estudar e trabalhar muito para conseguir se aposentar... SEM CURTIR A VIDA.
Já eu conversava com eles tentando mostrar que não. Falava que estudar e trabalhar também fazem parte de aproveitar a vida.
6- Como está sendo a sua quarentena em casa nos aspectos positivos e negativos?
Meu isolamento em casa está indo bem, graças à Deus! Sobre os aspectos positivos destaco a questão do tempo... estamos com tempo para o nosso interior e cuidar um pouco mais da gente , o mundo andava muito acelerado... Acho que essa é a oportunidade de refletir sobre o futuro e voltarmos melhor para a vida...
Quanto ao lado negativo, destaco a saudade forte dos meus filhos, das minhas netas e das outras pessoas que eu amo. Uma situação muito difícil mas que a gente precisa enfrentar.
7- Mediante a tantas notícias trágicas que rondam a nossa realidade, você se sente levada pelo medo? Como faz para driblar isso?
Sim, existem momentos que eu fico com medo sim, com certeza. Me preocupo com os casos de saúde que a gente vê, me preocupo com receio da humanidade não voltar consciente depois que tudo isso passar, enfim...
Para driblar a situação eu converso com Deus , escrevo bastante em casa, danço, escuto música... amo Tom Jobim e o samba do avião, amo outras músicas e tenho até uma peculiaridade para contar sobre isso...
Quando pequena eu gostava de uma música chamada "Trêm das Onze", na qual, parte de sua letra dizia: "moro em Jaçanã "...
Uma vez, quando meu filho me apresentou a minha nora, ela disse que seus pais vieram dessa cidade, Jaçanã, e eu achei interessantíssimo porque para mim o lugar só existia na música...
Comentei com meu filho sobre o desejo de conhecer esse lugar... ele disse que é uma cidade normal como qualquer outra, eu é que tenho essa coisa na cabeça por conta da música kkkkkk... Os pais dela não moram mais lá.
Outra coisa que também faço são exercícios por vídeo chamada, sempre gostei de me exercitar, tenho medalhas na minha casa da época em que participava dos circuitos de caminhadas... Durante um tempo eu também pratiquei tai chi chuan e dentro dessa técnica trabalho a minha respiração, o que tem me ajudado muito em tempos como esse...
8- A arte e o entretenimento em geral nunca foram tão necessários como nos tempos de pandemia. Como você classifica isso ?
Na sua família existem pessoas ligadas a arte, conta pra gente.
O entretenimento e principalmente a arte são coisas importantíssimas em tempos de isolamento, pra mim possui 90% de importância. Tenho acompanhado as lives e inclusive, participado de vídeo conferências...
Já a relação da minha família com a arte é assim: sou casada há 36 anos com o Armando, com quem tenho 3 filhos, todos tem algum tipo de ligação com a arte:
Meu filho mais velho ganhou o mesmo nome que o pai, Armando, ele fez faculdade de cinema e é roteirista... Armando dirigiu o clipe da banda " Uns e outros " ele é o pai da Maria Fernanda e da Aurora.
O meu filho do meio, Luiz, toca cavaquinho e violão, enquanto o mais novo, o Bruno, toca cavaquinho e guitarra... Em relação ao violão, todos cresceram vendo o pai tocar...
9- Sei que você é uma mulher de fé, baseado nisso, explica o que ela representa na sua vida?
Então, houve uma época em que após a minha gravides eu estava começado a criar pânico de ficar dentro do elevador... Conversando com o pediatra do meu filho, ele disse que eu teria que procurar um médico para tratar dessa questão...
Foi quando eu disse pra mim mesma que não. Eu teria que tratar e vencer esse medo sim, mas teria que ser através da minha fé... e dessa forma Deus me concedeu vencer a fobia.
Sou uma mulher católica e exerço a missão de Ministra Extraordinária da Eucaristia na minha Paróquia, sem contar o batismo, a Catequese que já participei, e outras coisas que faço com carinho para Deus... a fé é algo fundamental e indispensável na minha vida, procuro sempre estar atenta a Palavra de Deus e aos sinais que Ele nos dá diariamente...
Falando assim eu lembro até do profeta Jeremias... Jeremias era um profeta que podemos considerar como chorão... mas ele não era chorão apenas por um motivo qualquer, e sim, porque sentia as coisas maravilhosas que Deus favorece na nossa vida mas que nem todos dão a devida importância... isso o deixava muito triste.
Acho que todos nós devemos estar atentos aos sinais de Deus e colocar em prática o que Ele quer nos mostrar. Devemos usar a fé para refletir sobre os nossos atos e não abrir brecha para as coisas negativas... a fé é algo fundamental na minha vida, é através dela que me comunico com Deus.
Agradecimento: Marlene, foi bom demais aproveitar a quarentena para entrevistar você, te agradeço de coração por sua atenção e lhe desejo todo sucesso e saúde do mundo! Muito obrigado, fique com Deus !!!
FINAL.
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